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26 de jan. de 2009

11 DiFeReNçAs

Desço a rua apressado. Além de estar atrasado, chove.
Visto minha melhor camisa, minha melhor calça, e observo o sapato que acabei de polir se sujar de lama.
A sola dura do sapato sobre o concreto faz "pá-pá", sobre a madeira faz "toc-toc", e sobre a água faz "plash-plash". E não "splash-splash", como muitos tendem a onomatopear o encontro de algo sólido com a água.
Um belo par de pernas vem subindo a rua em direção contrária a minha. Saia preta sobre meia-calça preta. Bota de cano alto. Levanto a cabeça pra ver o resto do corpo.

Lindo. Agente se entreolha e fica disputando pra ver quem vai ser o último a desviar o olhar. Perdi. Tento olhá-la de novo, mas sei que já é tarde demais. Eu conheço as mulheres, mas não aprendo nunca. Não importa. Outra beleza vem subindo a rua. "Olha pra mim... Olha...". Ela olha. Agora que o peixe mordeu a isca preciso me manter firme. "Isso! Ganhei". Ela desvia o olhar e depois busca os meu de novo. Abro um sorriso e ela responde com outro. Mas agora desvia os olhos de vez. Duas mulheres sobem a rua conversando. Olhos pra elas e elas se calam. Olham pra mim e entre si repetidas vezes. Elas querem saber em qual das duas eu estou pondo os olhos, só que eu estou olhando as duas. Uma tem os peitos bonitos, a outra o rosto e as pernas. E quando passar pelas duas vou decidir quem tem a melhor bunda, e vou olhar pra bunda dela também.
Essas mulheres por quem eu cruzo na rua estão indo a festa no casarão ao lado da minha casa, tenho certeza. Se vestem a caráter. Roupas chiques, caras. E o lugar fica a 3 minutos daqui, subindo a rua que eu desço. Estou indo pro teatro. Um teatro chique aqui da cidade. E caro. Apesar de eu ter conseguido os ingressos de graça.
Estou vestido para a ocasião com as roupas mais caras que eu tenho.
Mesmo que minhas roupas não sejam tão caras assim, eu poderia entrar naquele casarão e me misturar aos convidados sem levantar suspeita, e por isso às mulheres com quem cruzei na rua respondiam aos meus olhares. Provavelmente pensavam que eu vinha da festa. Que eu era um deles. Que sai pra comprar cigarros ou coisa e tal. Além do que eu estou realmente elegante.
Se eu tivesse passado por ali com as roupas que uso normalmente, com meu casaco de loja de departamento, minha calca jeans batida, duvido que me dessem bola. Mais com camisa e calca social de loja de departamento brasileiro - que elas não vão reconhecer - elas devolvem os meus olhares. Elas me respeitam. Elas me desejam.
Será que só eu sinto atração pelas diferenças? Será que só eu quando volto do trabalho suado, amassado, sinto um tesão especial pelas mulheres ricas, bem vestidas, as executivas, as meninas da moda?
Nunca gostei das mulheres da minha idade. Sempre gostei das mais velhas e das mais novas. Dois anos de diferença no mínimo, pra cima ou pra baixo. Prefiro assim. Gosto de mulheres altas e de baixinhas. Não gosto de ter a cabeça reta enquanto beijo. Gosto de sentir torcicolo de tanto abaixar ou levantar o pescoço.
Passo em frente ao café da moda. Agora eles põe umas cadeiras frente às paredes de vidro e as pessoas se sentam de frente a rua, observam a paisagem enquanto tomam seus cappuccinos. É comum. Até quando não se tem paisagem. Acho estranho. Essas paredes de vidro parecem vitrines. As pessoas ficam expostas, conversam de lado umas as outras. Mas essa é a moda, e as pessoas que escolhem essas cadeiras geralmente seguem a moda. E gostam de se exibir. Se vestem bem, posam, e tentam parecer naturais aos olhares dos passantes. Com essas roupas eu poderia ser um deles. Eles me disseram isso ao me ver passar pela rua, pois através dos seus olhares pude ler seus pensamentos: "Esse tá vindo pra cá". Mas as meninas adolescentes e cafonas paradas na porta do Mc'Donalds também aprovaram a minha estampa. E até brincaram comigo pra chamar minha atenção. Talvez seja normal que o mais pobre se sinta atraído ao mais rico. Porque assim matam dois patos num só tiro. O pato da luxaria e o pato da ganância. Duas preocupações são constantes no homem ocidental. Ter, e se relacionar com alguém que tenha o ideal grego de beleza estética, e subir na vida no que diz respeito ao conceito burguês de progresso pessoal: ganhar mais, gastar mais.
Mas quando eu volto do trabalho e me excito vendo as executivas saírem dos seus carros de vidro preto, me excito apenas com a diferença que há entre nós. Com a improbabilidade de nós acontecermos. Me excito com a possibilidade de deixar claro que, se somos nós tão diferentes, trepamos pela simples razão de que sentimos tesão um pelo outro. O sexo pelo sexo. Um sexo absoluto. Um sexo puro.
Qualquer outra forma de amor carnal considerado puro, acreditem meus amigos, é balela. É cristianismo, é romantismo, é caretice, é modernidade enlatada, e ai não é só mais sexo. O sexo puro e sacanagem e tchau! Embora eu também ache que a cultura torne o sexo ainda mais especial.
Daí (viva Bito) cheguei ao teatro e assisti a uma peca chatíssima!
Blog Da Estrada
*
Confesso que às vezes passeando pela blogsfera eu vejo ou leio coisas que me fazem ter vontade de ter companhia.
Como não estão lá comigo...Trago pra cá, pra dividir com vocês.
Espero que gostem, eu gostei MUITO.
Mas claro, como o título diz, pode ser que haja DIFERENÇAS no nosso gosto.
Normal.

11 comentários:

  1. Com certeza a impossibilidade torna tudo mais Intensamente desejável... Essa diferença que deixa a coisa mais deliciosa ainda...

    Gostei do conto.

    Beijos!

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  2. oi, amei... muiiiito bom!


    b.e.i.j.o.s.

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  3. Eu confesso que li o artigo e fiquei pensando...lembrando quantas "diferenças" já me atraíram na vida, tanto de coisas, lugares, pessoas...amores.
    E não sei se é exatamente porque trazem algo que não somos/temos/fazemos que parece tão mais excitante do que as vezes na realidade é.

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  4. As diferenças nos instigam... nos seduzem...
    Bjos!!

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  5. Anônimo26/1/09

    kkkkkkkkkkkkkkkk
    a releitura é fotográfica :P
    ahahahahahahahahahahha
    depois vou ler teu post, mas já adorei as onomatopéias!!!

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  6. Putz....texto muito bacana....desbanca qualquer jabour que tem por aí!
    Nessas horas eu penso que queria escrever assim rs

    Um beijo!!

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  7. Diferenças fazem parte
    Mais do que isso. A graça de tudo tá nas diferenças, oras. Tudo igualzinho ? Cadê o colorido ?

    p.s Atre, como assim ? Você não está sozinha. Estamos todos juntos. Todos por ai, contudo, todos juntos.

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  8. E viva as diferenças...isso que torna as pessoas tão interessantes...

    Boa semana pra vc,
    bjos.

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  9. o que seria do verde se não fosse o vermelho???
    tem que haver diferenças sempre! é aí que está a graça!


    linda, bj!

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  10. As diferenças sempre chamaram minha atenção. Não tanto a de dinheiro, ou de vestimenta, mas sim as físicas. Uma ruiva, uma morena, uma negra, uma loirinha.....Já me disseram uma vez, que eu gosto de belezas exóticas......

    Foi bom, e o seu? Como foi seu fim de semana?
    Bjão Atre!

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  11. Já me disseram que eu gosto de...bem, deixa pra lá! Publicidade gratuita é pro Big Ben...
    Mas se interessase a alguém obter como pagamento um "EU JÁ" de uma certa e atrevida pessoa publicado como post, já podíamos conversar.

    Quanto ao texto do DaEstrada, ATRE que pena que ele parou mesmo!!!!!!
    Ia DAR uma BOA publicada uma PUTA textualizada no nosso movimento "Sua Atrevência para Presidência!" - ou pelo menos - o "Vai Atrê"(*que encabeço e movo 'sozinhamente' aqui!).

    Diferença é uma coisa que acho tão, mas tão bacana...que acho lindão aquela cabeleira longa e negra caindo sobre um corpo curvilineamente alvo, como uma formosa e raspada ebânea cabeça sugerindo coisas mais sugestivas que Jabor em final de crítica.

    Ficamos assim. Esperando que nossa amada Atrevidamente nos (a mim) responda e DÊ algo mai que um tímido "tudo a seu tempo".

    At(r)é!

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